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cada dia novas manifestações, da parte de médicos mostram a REALIDADE da Saúde Pública brasileira! Publicado na coluna de Ricardo
Setti, REVISTA VEJA:
Texto
do leitor Milton Simon Pires, médico em Porto Alegre
Excelentíssima
Senhora Presidente da República:
Já nos conhecemos,
a senhora e eu. Dessa vez, portanto, não vai haver apresentação.
Vou começar
lembrando à senhora algumas curiosidades.
Oito anos é
atualmente o tempo máximo de mandato de presidente da república,não é?
Oito anos,
presidente, se não estou enganado, é também o tempo limite para que uma pena de
prisão em regime fechado possa ser convertida em semiaberto (apreendi isso
assistindo na TV o julgamento de alguns conhecidos seus na Ação Penal 470) e
por aí vai…
Enfim, presidente,
oito é um número aplicável a tantas coisas..rss..
Na China se costuma
dizer que oito é o número da sorte. Mas hoje; vai ser do seu azar. Explico-lhe
brevemente o porquê:
Hoje a tarde, li
perplexo na internet as notícias que dão conta do lançamento do seu “Programa
Mais Médicos”. Não vou aqui gastar seu tempo detalhando um por um os aspectos
dele.
Nosso tema aqui,
presidente, é bem específico – nós vamos falar do aumento do tempo da formação
médica de seis para oito anos obrigando-nos a prestar dois anos de serviço no
SUS antes de receber reconhecimento oficial como médicos.
Presidente Dilma, a
senhora sabe o que são “doutorandos” e médicos “residentes”?
Não sabe, né?
Lá vai a explicação
– doutorandos são, normalmente, estudantes no ultimo dos seis anos da
tradicional formação médica que a senhora e os gênios que lhe assessoram querem
mudar.
Médicos residentes
já se formaram – tem responsabilidade legal e, trabalhando sob supervisão de
colegas mais experientes, fazem uma determinada especialização.
A senhora sabe o
que eles tem em comum, presidente?
Eu lhe respondo –
eles “carregam nas costas os hospitais universitários brasileiros”.
Eles, para sua
informação, já trabalham, na sua gigantesca maioria, em hospitais públicos ou
vinculados ao seu maravilhoso Sistema Único de Saúde!
São eles que
atendem a gigantesca massa daqueles que a senhora e seus correligionários do
Partido-Religião chamam de “usuários” e nós chamamos de pacientes.
Enquanto eles estão
dentro de hospitais públicos com teto e paredes desmoronando nos ambulatórios,
enfermarias e blocos cirúrgicos, a senhora e o Lula são atendidos por outros
médicos dentro, por exemplo, do Hospital Sírio Libanês de São Paulo!
Alguns desses
colegas que atendem a senhora e nosso ex-presidente deveriam estar junto com os
doutorandos e residentes supervisionando a sua formação como médicos e
especialistas.
A senhora sabia
disso, presidente??
Mas, por favor, não
quero lhe constranger…
Vamos dizer que
essa sua medida desesperada para se reeleger seja realmente implantada…
Gostaria de tirar
com a senhora algumas duvidas: tem a senhora a noção de que a rede hospitalar
brasileira inteira está completamente sucateada, presidente?
Sabe por quê?
Porque malditos
colegas meus e seus ajudaram a transformar um país que tem quase o tamanho da
China num gigantesco posto de saúde!
Diga de uma vez por
todas isso ao povo, presidente Dilma.
Mesmo que a senhora
“derrame” 12.000 médicos dentro do SUS de uma hora para outra eu lhe pergunto –
Onde e em que condições eles vão trabalhar???
Dentro dos famosos
pronto-atendimentos?
A senhora sabe o
que é um pronto-atendimento, presidente?
Eu lhe explico – é
um lugar onde se atende tudo aquilo que não é suficientemente grave e deveria
estar num posto de saúde; ou é tão sério que deveria estar dentro de uma
emergência de verdade!
Sabe por que esse
tipo de imundície foi inventado?
Para esconder que
não existem mais hospitais nesse maldito país.
Seu antecessor, que
nos anos 70 perdeu esposa e filho num hospital público, preferiu emprestar
dinheiro para Cuba, perdoar a dívida da Bolívia e comprar deputados no
Congresso nacional em vez de construir hospitais !
Nas últimas duas
semanas, presidente, a senhora propôs ao povo brasileiro um plebiscito, depois
um referendo e agora – sempre maravilhosamente assessorada – vem com um absurdo
que nem mesmo a ditadura militar quis impor: estender o tempo de formação dos
médicos brasileiros e obrigá-los a trabalhar onde algum burocrata escolher por
razões ligadas ao fracasso do plano de poder do PT.
Presidente, cada
vez que lhe escrevo fico dividido.
Não sei se expresso
a indignação de quase 400.000 médicos brasileiros ou se fico com pena da
senhora.
Até quando vai esse
seu desgoverno?
Até onde a senhora
acha que pode enganar tanta gente durante tanto tempo?
Afaste-se
imediatamente dessa corja de colegas MEUS que lhe assessora, que esqueceram que
são médicos, e que depois de formados jamais atenderam ninguém no sistema
público.
Se a senhora não
fizer isso, vai apreender de uma maneira dolorosa que políticos podem ter
partido… podem ser liberais ou democratas, progressistas ou conservadores…
podem até ser ditadores… mas jamais vão ter poder suficiente para aliviar a dor
ou evitar a morte.
Essa função é nossa
e, dia após dia, cada vez mais a senhora vem nos impedindo de exercê-la.
Atenciosamente,
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